Um Dia Normal

Posted on março 29, 2007

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Ele chegou cansado. Teve um dia difícil na agência, foi cancelada uma conta que já tinha como certa e aquilo estava acabando com ele. Até mesmo a presença alegre da nova secretária, uma morena linda de cabelos longos e lisos que ia quase à altura da cintura fina, chegava a irritá-lo com seu andar tão sexy e natural. O entusiasmo de iniciante, aquele belo sorriso sempre tão prestativo e o som melodioso da sua voz só aumentavam o martírio. Conviver com tamanha beleza seria impossível. Definitivamente, teria que mandá-la embora, do contrário não conseguiria mais trabalhar. Tarefa impossível, sendo ele a cada minuto tentado em seu tão firme, e hoje quase lamentado, propósito de se manter casto e fiel à sua amada.

Naquele momento, ele não sabia se o que doía mais era a sua cabeça ou suas bolas que teimavam em latejar. Esparramou-se na poltrona da sala, abriu bem as pernas para ver se aliviava um pouco o desconforto, levou a mão entre as pernas e pensou: “Dois meses, vinte e dois dias, quatro horas e… Dezesseis minutos!”, conferiu olhando o relógio depois de um longo suspiro. Nunca pensou que fosse tão difícil ser realmente fiel a uma mulher. Teria que aprender a ser cada dia mais resignado e merecedor da atenção daquela que venerava tão profundamente, ao ponto de fazê-la a única guardiã da chave do seu cinto de castidade.

Nesse momento, ele ouviu o som daquele doce sorriso. Vinha do quarto. Levantou da poltrona e foi na ponta dos pés se esgueirando até lá, imaginou que ela poderia estar com alguém, um amante talvez. Seu coração batia descompassado ao imaginar a possibilidade, ao mesmo tempo em que seu sexo latejava ainda mais dentro do cinto. A situação o excitava. Bem devagar se pôs a olhar sorrateiramente da porta e deu um suspiro aliviado. Ela estava deitada de bruços na cama, com o telefone ao ouvido, segurando uma caneta com a outra mão e conversando animadamente com alguém enquanto balançava os pezinhos no ar. Como uma colegial, leve, solta e feliz. Involuntariamente sorriu. É claro que não descartava que podia ser o amante ao telefone, mas mesmo assim ficou ali, da porta, a admirá-la. Como ela podia ser tão linda, tão doce e tão… Deliciosamente malvada!

Percebendo a presença dele no quarto, ela olha para trás e lança um beijo em sua direção, com o sorriso mais lindo e doce que só ela tem. Sem, no entanto, parar de conversar. Aponta então displicentemente para seus pezinhos a mexer, afasta um pouco o telefone e fala com arzinho dengoso: “Massageia meus pezinhos amor, eu andei a tarde inteira procurando aquela sandália linda com a fivelinha na frente que te falei. Aquela que eu quero combinar com o corset lindo que você me deu, lembra?”.

Ele então sorri encantado! Feliz em ser útil à sua amada. Esquecendo o dia terrível no trabalho, a tentação da secretária, a dor de cabeça, o sofrimento em ter as bolas trancafiadas naquele cinto que o mantém casto… Tudo! Esquece tudo por aquele lindo sorriso, por aqueles pés tão belos e amados à sua frente. Prontos para serem acariciados, cuidados, adorados, como somente uma Rainha merece. Como a sua Rainha merece!

Senta-se então na cama, pousa os pés dela em seu colo, próximo ao objeto que é ao mesmo tempo símbolo de seu sofrimento e orgulho pensando: “Como eu sou feliz!”.