O Presente

Posted on março 29, 2007

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Ela olhou em direção à janela daquele quarto de hotel, para as gotas de chuva que molhavam o vidro na noite escura. A chuva… Sempre teve fascínio pelas forças da natureza. Sentia-se tão mínima, tão impotente… E ao mesmo tempo tão fascinada, tão livre. Inexplicavelmente… Ficou feliz que fosse uma noite de chuva.

Seus cabelos cor de fogo ainda molhados do banho recém tomado, escorriam pelas suas costas. Andou descalça pelo quarto na penumbra, iluminado apenas pelo pequeno abajur. Aproximou-se da janela, segurando com firmeza a toalha que cobria o seu corpo, seu coração batia acelerado, descompassado, não sabia se o seu corpo ainda estava úmido dos resquícios da água do banho, ou se suava de ansiedade. De excitação… Sabia que ele a observava, mas de onde?! “Ah… Isso era o que menos importava agora” Pensou.

Sentia o olhar dele sobre ela, apesar de não saber exatamente como. Até aquele momento, havia cumprido fielmente cada uma de suas instruções. Teve um grande prazer em cumprir cada uma de suas ordens, dando uma atenção absurda aos detalhes. Mesmo longe da sua presença, queria agradá-lo. Havia um erotismo implícito em cada um de seus atos.

A música, um noturno de Chopin, ecoava pelo quarto. No volume exato que ele havia indicado. O banho havia sido preparado na temperatura indicada e com o óleo essencial de patchoulli. Mesmo agora, depois de ter saído dele, o perfume exalava suave pelo quarto. Suas mãos tremiam…

Abriu as cortinas, de um lado a outro, como ele pediu. E parada diante da janela de vidro que dava pra rua, deixou enfim a toalha cair, exatamente como ele disse que deveria ser. Fechou os olhos e mordeu os lábios, não acreditava que teve coragem para tanto…

Entreabriu os olhos e viu que do outro lado da rua, abrigando-se da chuva forte sob uma marquise havia uns homens que não apenas viram a sua nudez, como gritavam enlouquecidos, assobiavam e batiam palmas.

Ela sentiu seu rosto queimar de vergonha, teve vontade de pegar a toalha do chão e cobrir o seu corpo, sair dali, de toda aquela loucura, mas… Lembrou então da voz dele em seu ouvido, enquanto acariciava seus cabelos na noite anterior. “Você é minha, tão minha como jamais foi de qualquer outro. O teu corpo é meu, cada centímetro dele me pertence…” E enquanto dizia isso acariciava o seu corpo e continuava. “Quando você estiver diante da janela e deixar a toalha cair, deve lembrar que faz isso para mim, o seu Dono, somente pra mim, para ninguém mais…”.

Ela então fechou os olhos e duas lágrimas rolaram pelo seu rosto, apesar de saber que ele não deixaria que nada de mal lhe acontecesse, estava morta de vergonha, ouvindo as obscenidades que aqueles homens gritavam. Virou o rosto para o lado e abaixou a cabeça segurando o choro, até quando teria que ficar ali… Neste momento o telefone tocou.

Ela correu para atender, era ele… “Minha Dama da Noite?!”

Ela sentou-se então no chão, à beirada da cama e caiu num pranto convulsivo… Ouvindo os homens urrando do lado de fora do hotel. Abraçou as pernas como uma criança acuada e escondeu seu rosto entre elas. Os cabelos vermelhos faziam contraste em sua pele branca, seu corpo balançava de tanto que chorava, sequer tinha forças para manter o telefone em seu ouvido.

Quando enfim acalmou um pouco, pegou mais uma vez o telefone e desesperada falou: “Alô?!”, mas estava mudo do outro lado da linha. “Alô?! Ainda está?” e o silêncio permanecia. Não sabia quanto tempo havia passado. Ela só ouvia a música, o piano nervoso e os gritos dos homens que aos poucos iam ficando mais distantes até enfim cessar.

Ela continuou ali, no chão, no mesmo lugar, como um gatinho assustado. Com o fone ao ouvido, esperando… Apesar de nenhuma palavra, sabia que estava lá, ela podia ouvir a sua respiração. Sentí-lo. E esta sensação aos poucos a acalmava…

Neste momento ela ouviu mais uma vez a sua voz. “Você é uma boa menina, fez exatamente o que pedi. Eu sabia que minha Dama da Noite era capaz…” Ela então, ainda com voz chorosa, falou: “Onde está você? Sinto-me só, com medo… Vem… Por favor…”.

“Ainda não! Você merece um presente muito especial por ter sido tão maravilhosa…” Neste momento bateram à porta e ele pediu que ela abrisse e depois voltasse ao telefone. “Nua?!” ela perguntou apreensiva. “Pode cobrir-se com a toalha, eu te espero.” E assim ela fez, mas viu que não havia ninguém à porta, apenas uma enorme caixa branca, com um laço vermelho no chão. Pegou a caixa, fechou a porta e voltou ao telefone. “Já abriu?” ele perguntou.

Ela tirou então o laço e viu que havia um lindíssimo corselet de vinil preto, onde o espaço pra os seios era vazado, detalhe em rebites prateados, tinha um cordão atando-o por ilhoses e na parte inferior dele desciam ligas. Na caixa havia ainda, meias pretas sete oitavos e um scarpin altíssimo de bico fino. “É para eu vestir?” ela perguntou. E ele respondeu que sim.

Mais uma vez ansiosa como uma criança, ela voltou a sorrir e vestiu calmamente as meias, o corselet, e correu para o telefone para perguntar se não havia calcinha e ele sorriu dizendo: “Para quê?” Ela calçou então os sapatos e olhou-se no grande espelho que havia na cabeceira da cama. Estava um verdadeiro ícone fetichista.

Pegou mais uma vez o telefone e antes que ela dissesse qualquer coisa ele disse: “Você está linda! Especialmente linda…” ela sorriu, olhando em volta, procurando saber de onde ele a observava, devia haver um circuito interno de TV, ou qualquer coisa assim. Ela então perguntou: “E agora? O que eu faço?” e ouviu simplesmente que fechasse os olhos. E ela obedeceu aguardando o que viria depois…

Ouviu então a porta abrindo e fechando. Passos se aproximando por trás dela e o corpo dele encostando ao seu, reconhecia o seu perfume… “Posso abrir os olhos?” ela perguntou ansiosa e ele disse apenas que não.

Sentiu então que ele vendava seus olhos com um lenço, de toque frio, talvez seda… Amarrava firme, muito firme, de maneira que ela mesmo que quisesse, não pudesse ver mais nada. Ficou então diante dela e beijou sua boca.

Ela sentiu seu corpo quente envolver o dela em um abraço… Acariciou-o, e mesmo sem tê-lo visto pôde imaginar que ele vestia aquela blusa preta de gola alta com toque aveludado que ela tanto amava, ele ficava misterioso e imponente vestido daquela maneira. Aliás, ela tinha certeza que ele estava “todo” de preto. Como um Dom, pronto para submetê-la…

Sentiu as mãos dele pelo seu corpo e seus joelhos fraquejaram. Guiou-a carinhosamente até a cama e disse que deitasse com as pernas abertas e dobrasse um pouco seus joelhos. Ele então se afastou um pouco da cama e disse com voz calma: “Masturbe-se pra mim!” e ela obedeceu, imaginando que enquanto se masturbava ele estava se despindo para em breve penetrá-la.

Acariciava-se, pois sabia o quanto àquela cena o excitava, imaginava-o à sua frente, observando-a nu, a masturbar-se também. Neste momento, sentiu suas mãos a tirar seus sapatos, primeiro um e depois o outro…

Sentiu sua boca em seu pé, sobre a meia fina lambendo sua sola. Ao mesmo tempo em que suas mãos subiam delicadamente para sua coxa e a despiam da meia. Repetindo o gesto no outro pé, na outra perna… Enquanto isso ela continuava a masturbar-se. Estava perto de um orgasmo. Ele agia com uma delicadeza quase feminina, tamanho o seu cuidado…

Sentiu suas mãos suavemente acariciando suas pernas, sua boca beijando os seus pés, sugando dedo a dedo delicadamente, voluptuosamente… Mordiscando a curvinha de suas solas. Ele sabia o quanto isso a excitava e nesse momento ela teve um orgasmo, deu um gritinho abafado e sentiu os lábios dele subindo por entre as suas pernas, ela então buscou com as mãos sua cabeça, para guiá-lo… Sentiu então que… Não era ele, não eram seus cabelos curtos e grossos, mas sim longos e sedosos cabelos lisos, como os de uma mulher.

“Quem está aí?” ela perguntou retesando o corpo. Sentando-se na cama, encolhida e assustada. Nesse momento ele disse: “Calma, eu estou aqui também…” abraçando-a, mas ela continuou: “Quem é esta mulher? Porque ela está aqui?” Ele então deu-lhe um beijo longo e voluptuoso e disse em seu ouvido: “Ela é o seu presente, abra as pernas… Quero ver o seu prazer” Estava meio assustada, mas…

Curiosamente, aquilo a excitava. Havia comentado com ele certa vez, que esta era a sua fantasia inconfessável, uma mulher. Saber agora, que havia uma desconhecida entre as suas pernas… Que tão deliciosamente havia adorado seus pés enquanto se masturbava. Que aqueles lábios quentes que há alguns instantes estavam em seus pés, a mordiscá-los e beijá-los, poderiam agora dar muito mais prazer… Estava sem dúvida excitada.

Relaxou um pouco mais o corpo e deixou que a desconhecida a acariciasse, enquanto ele dizia: “Boa menina…” Sentiu os lábios quentes entre as suas pernas, ao mesmo tempo em que ele a mordiscava e acariciava o bico dos seus seios. A sensação era indescritível, e o fato de não ver, apenas acendia mais a excitação.

Sentiu que estava perto de mais um orgasmo, quando ele disse que queria sentí-lo em sua boca. E ela fez como tanto amava. O teve em sua boca, todo, com desejo. Ao mesmo tempo em que estava prestes a um novo orgasmo, sendo excitada ao extremo pela desconhecida e pelas mãos dele, que segurava firmemente os seus cabelos, provavelmente para visualizar melhor o ato… Ele amava vê-lo sumir em sua boca. Apesar da venda em seus olhos, imaginava nitidamente a cena.

Sentiu então um orgasmo intenso e apertou-o com um pouco mais de firmeza, ao mesmo tempo em que o colocava com mais volúpia em sua boca e pôde (quase que simultaneamente) sentí-lo em sua boca e sua face. Abriu mais as pernas. Sentiu que a desconhecida sorvia seu caldo quente enquanto eles gemiam de prazer… Não havia palavras para descrever aquele momento… Seu corpo tremia de desejo e fervia de prazer.

E quando enfim relaxou e suas respirações aos poucos voltavam ao normal, ouviu-o dizer para a desconhecida que podia ir enfim. Ele aconchegou-a um pouco mais a seu corpo e desatou o lenço dos seus olhos. Ela cerrou-os um pouco até abri-los, pode ver então o rosto dele, lindo, másculo, na penumbra do quarto.

Olhou para a janela, onde havia antes se exposto, e um “flash back” de tudo que passou até aquele momento veio à sua mente. Olhou para as roupas dele no chão, para a cama toda emaranhada a seus pés e levou sua mão entre as pernas… Sorriu envergonhada. “Não acredito que eu tive um orgasmo na boca de uma mulher…” disse meio sem jeito, escondendo o rosto em seu peito moreno, enquanto ele também sorria e acariciava seus cabelos.

A sonata de Chopin mais uma vez ficava calma, e a noite aos poucos também… A chuva ainda caía, mas agora suave e constante. Como seus batimentos cardíacos. E foi então que ela de súbito perguntou: “Você disse que por eu ter sido uma boa menina, ganhei um presente… Você teria me castigado se eu não tivesse conseguido cumprir com o combinado?” Ele então calmamente respondeu: “Sim!”

Ela então se encolheu um pouco. Mais uma vez se aconchegou em seu abraço. Não quis saber de mais nada, de presentes ou castigos, estava agora em seus braços, nos braços do seu “Príncipe da meia noite”, completamente segura e feliz…