Um Segredo

Posted on março 29, 2007

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O começo de tudo

A noite estava fria, era a terceira vez que ele olhava para o relógio… Mais uma vez tirou o papel do bolso e conferiu endereço e horário.

Rua Paraíso 421 23:45h

Que bobagem, a ansiedade o fez chegar antes da hora, pelo menos uma hora antes… Sentou-se então naquela escada suja e fria, e relembrou como quem vê um filme todos os acontecimentos até agora…

Naquele dia, pra variar, saiu atrasado. Era a terceira vez naquela semana que a empregada atrasava e consequentemente, ele também. Sua esposa saía antes levando o filho mais velho pra escola, sobrava pra ele ficar com o pequeno até a empregada chegar.

Estava quente, o trânsito um inferno… Enquanto dirigia, pensava na vida. Na sua vida chata. As contas, o trabalho, os colegas, família… Será que estava ficando velho e ranzinza?! Achando chatas as coisas normais da vida de todos?! Não… Ele não era o tipo que se lamenta à toa, sua vida realmente, não foi exatamente o que esperava dela, mas enfim, era a vida que ele escolheu.

De repente, sentiu um solavanco, como uma batida na parte de trás do seu carro. Um carro preto importado, com vidros escuros havia batido nele quando reduzira a velocidade para obedecer ao semáforo, que acabara de fechar. “Só faltava essa…”, pensou.

Saiu do carro e foi olhar a traseira.. A batida não foi séria, mas amassou um pouco, se dirigiu ao vidro do motorista, e deu duas batidas… Achando um absurdo o dono do carro não ter sequer saído ou aberto o vidro. Bateu uma segunda vez, e dessa vez ouviu o barulho do vidro automático, desceu apenas o suficiente para que visse a delicada mão branca, com grandes unhas vermelhas entregando um cartão.

Quando ele ia esboçar alguma reação, uma voz suave e doce disse: “Sinto muito pela batida. Entre em contato e eu cubro todos os gastos. Estou atrasada para uma reunião, e além do mais o sinal abriu. Estamos atrapalhando o trânsito” . Dizendo isso, fechou o vidro, e ele só então se deu conta do barulho de buzina que atordoava…

Meio que hipnotizado, encaminhou-se para o seu carro e mais uma vez deu uma olhada para a traseira dele, não foi tão grave assim, se esse cartão fosse falso, ele também não teria um prejuízo tão grande que não pudesse dar um jeito… Pelo menos alguma coisa havia acontecido em sua vidinha chata…

Deu a partida e seguiu para o trabalho, sequer pode ver qual o rumo que o carro preto havia tomado… De relance, olhou o cartão, e viu que nele não havia nome ou endereço, apenas um símbolo, como um brasão, e um número de telefone celular, instintivamente, levou o cartão ao seu nariz, fechou os olhos e respirou fundo… que perfume…era o perfume dela… Ouviu então uma buzina, e antes que causasse o segundo acidente do dia, resolveu prestar atenção na estrada e seguir com sua rotina sem graça. ”

No trabalho

Chegando ao trabalho, nada foi diferente do que sempre foi. Exceto a narrativa entusiasmada do acontecido aquela manhã. Na hora do café, ele foi cercado por uma “audiência” interessada, que fazia os mais diferentes comentários.

“Você viu se a mulher era “boa”?”; “Ihhhh, vai levar o “cano”…”; “Mas você é otário mesmo…, como é que aceita um cartão com telefone celular? Tinha que resolver ali, na hora!”.

Para os seus colegas ele era o maior imbecil, e de certa forma era mesmo. Como deixou aquela mulher passar…? Já nem pensava mais no carro, somente naquele aroma delicioso do cartão, nas longas unhas vermelhas reluzentes, e na pele branca e pálida daquela mão delicada…

O som da voz daquela mulher era completamente diferente de tudo que já havia ouvido, era suave, doce e… Firme. Ela tinha uma força nas palavras, nas poucas palavras pronunciadas, que praticamente o hipnotizou… Como esquecer o som daquela voz, o aroma do seu perfume, estava enfeitiçado…

Ligou para a esposa, comentando o acidente, mas obviamente omitindo o fato que estava completamente enfeitiçado pela mulher… Ela perguntou se ele já havia ligado para o número do cartão, e ele então se deu conta, que estava tão abobado que sequer checou se o telefone existia ou não… Desligou o telefone e mais uma vez pegou o cartão.

Pela primeira vez percebeu, que estava evitando telefonar para ela, sentia um frio na barriga… Como há muito tempo ele não sentia. O que seria? Estava com medo que aquele telefone não existisse… e realmente, nada tinha a haver com o carro.

Digitou então o número e ansiosamente ouviu os toques. O primeiro… Segundo… Terceiro… Quarto… Já pensava em desistir quando ouviu mais uma vez aquela voz: “Sim?!”

Ele ficou mudo… Não só o telefone existia, como era ela… Com sua voz suave e firme. Resolveu então acordar e tentar ser claro e objetivo. Seu assunto com aquela mulher era o carro, nada mais!

“Oi, quem está falando é rapaz do acidente desta manhã…” Ia continuar sua narrativa quando ela o interrompeu: “Rapaz? Hummmmm aconteceu hoje um acidente comigo, mas… foi com um delicioso homem moreno, alto, forte, de cabelos levemente grisalhos…”

Ele ficou mudo… Estava sendo “cantado”? Aquele mulherão estava insinuando-se para ele? Aquele “hummmmmmmm”, era maravilhoso de se ouvir, quase um gemido de prazer. Pensou em deixar acontecer, e ver até onde ela iria. Respirou fundo e continuou: “Rapaz, pois tenho alma de menino…” Ele disse com um sorrisinho, fazia muitos anos que ele não paquerava ou era paquerado, aquilo era um evento para ele…

Ela então mudou o tom sexy da frase anterior e ficou completamente formal: “Ok! E o Senhor já sabe quanto foi o prejuízo?” Completamente desnorteado, ele pensou que ela era louca… Uma daquelas mulheres que a todo instante necessitam provar o quanto são sexies. Era um jogo… Apenas isso… Decidiu então jogar o jogo dela, e ser objetivo. Ele disse que passaria na oficina, que o estrago havia sido pequeno, e que no fim do dia teria o valor. Ela então disse apenas: “Agora estou de saída, me ligue no fim do dia, e veremos como fazer.” Dizendo isso desligou.

Que mulher estranha… Uma hora normal, na outra sexy, em outro momento formal… Que montanha russa. Bem, desde que ela pagasse o prejuízo, estava tudo bem. Podia ser tão inconstante quanto desejasse. Até porque, aquela atitude dava a ela ar ainda mais misterioso…

O fim do dia

Aquele dia saiu do trabalho um pouco mais cedo, ligou pra esposa dizendo que passaria no mecânico e que chegaria em casa mais tarde, por conta do carro. Mais uma vez pegou o cartão dela e respirou fundo aquele perfume, as imagens daquela manhã vieram em flashes em sua mente. Que mão, que unha… Imaginou-se arranhado por elas..

Que loucura! Ficar fixado em uma mulher que nem conhece… E o pior, que é completamente estranha. Resolveu ir logo ao mecânico e saber de uma vez o valor do estrago, assim teria novamente um motivo, para telefonar.

O estrago realmente havia sido pequeno, o mecânico disse que seria serviço para um dia… Podia deixar o carro pela manhã e no fim do dia estaria ok. Pegou o orçamento, uma quantia que ele achou relativamente insignificante, e encaminhou-se para o carro.

Pronto! Já tinha novamente motivo para ouvir aquela voz… Sentia-se um adolescente, tamanha a ansiedade, pegou mais uma vez o cartão e ligou do seu celular. Fora de área! Maldita mensagem, metálica, impessoal… Tentou mais uma vez. Fora de área!

Aquilo o consumia por dentro… Uma angústia, um desespero, uma sensação de que nunca mais saberia dela… Que loucura… Afrouxou a gravata, estava suando.. Não havia nem 10 horas que tinha consciência da existência daquela mulher, e não a tirava do pensamento.

Tentou mais uma vez. E dessa vez chamou… “Ainda bem!”, pensou ele. Primeiro toque, segundo, terceiro, quarto toque… Quanta angústia e excitação por falar com uma mulher que só havia visto sua mão e ouvido a sua voz. “Sim?!”, disse do outro lado da linha, a voz que já era tão familiar.

“Oi, sou eu mais uma vez, te liguei mais cedo, lembra?! A respeito do carro…. Já tenho o orçamento e…” Foi então interrompido por ela: “Anote esse endereço” Falando pausadamente um endereço no centro da cidade: “Esteja lá em meia hora, vou atendê-lo.” Ela concluiu, desligando logo em seguida.

Que mulher estranha… Conhecia o endereço, lá havia muitos escritórios de profissionais liberais. Engenharia, direito, arquitetura, não sabia qual seria especificamente aquele, mas… Sua curiosidade era tanta, que certamente ele estaria lá em meia hora.

O encontro

E assim o fez se arrumou um pouco, penteou os cabelos e em meia hora estava ele diante de uma linda secretária de cabelos negros e olhos azuis. Que já o esperava com um sorriso nos lábios. Ele então falou: “Estou aqui para falar com a Senhora…”, pela primeira vez se deu conta, que nem seu nome ele sabia. A secretária então perguntou: “É a respeito do carro?”. Ele disse: “Sim, isso mesmo! Gostaria de falar com sua chefe a respeito do orçamento.” A secretária então falou: “O senhor pode deixar comigo o valor e número da sua conta, tenho recomendações para fazer o depósito amanhã pela manhã.”

Ele ficou decepcionado, passara todo o dia esperando por aquele momento, e quando enfim chegou, ela não o receberia… Mais um momento decepcionante para a sua vidinha chata. Resignadamente anotou seu nome e o número da conta em um papel, e se deu conta que foi expectativa demais para uma situação tão comum.

A secretária assegurou que o depósito seria feito logo pela manhã, e que não havia com que ele se preocupar, sua chefe era muito correta com todas as suas responsabilidades. Resolveu então, perguntar a secretária o nome dela, o que fazia, mas… Desistiu antes de começar a falar, como era de seu costume…

Quando estava saindo o interfone tocou, e ele então ouviu a secretária: “Espere um minuto, por favor.” Ele parou, estava acostumado a obedecer, prendeu a respiração e começou a imaginar o que poderia ser… Ouviu a secretária dizer uma série de: “Sim, senhora!”; “Não, senhora!”; “Pode deixar senhora, eu faço isso!”. Ao desligar, a secretária deu um sorriso para ele e disse: “A senhora o espera lá dentro…” E abriu a porta de uma enorme sala para ele, indicou uma cadeira que ficava bem a frente de uma grande mesa, e saiu.

Ela!

A sala estava vazia, era ampla com design moderno e poucos móveis, havia uma mesa de desenho no canto, tudo de muita beleza e bom gosto… Havia uma outra porta lateral, certamente ela viria por lá… A sala tinha o aroma dela, o mesmo perfume do cartão. Ele então fechou os olhos e respirou fundo, como se com aquele gesto ele a trouxesse para perto de si. Materializasse todos os seus sonhos cultivados ao longo do dia.

Ouviu então passos por trás dele, ela realmente veio pela porta lateral, por instinto ele virou o rosto na direção dela. E ficou mudo mais uma vez… Imediatamente olhou para as mãos e viu aquelas unhas pintadas de vermelho. Realmente era ela…

Era uma mulher interessante, não era linda, mas muito sensual… Tinha olhos muito expressivos, nariz levemente arrebitado, lábios carnudos que davam àquele rosto uma conotação erótica, cabelos presos em um coque no alto da cabeça que dava a ela um ar sério, usava saia e blusa pretas, um decote V mostrando os seios fartos… Tinha a pele clara, era alta e parecia ainda mais alta em cima daquele escarpin vermelho de salto finíssimo, como uma mulher conseguia equilibra-se em cima daquilo?

Ele a via como se estivesse em câmera lenta, queria guardar cada detalhe daquela imagem, sem dizer nada, ela sentou na enorme cadeira que estava a sua frente e cruzou as pernas… Como a mesa era de vidro, ele podia ter a visão maravilhosa das suas pernas e pés… Ela não dizia nada, apenas o observava, com um enigmático quase sorriso nos lábios. Balançava seu pé levemente embaixo da mesa como se quisesse chamar atenção pra ele… E estava conseguindo… Ele estava completamente hipnotizado por aquela mulher…

Por algum motivo que ele não sabia explicar, estar diante dela o deixava petrificado, quase em transe, se por telefone, ouvir aquela voz o fazia estremecer de desejo, ver à sua frente aquela deusa… era inexplicável.

“Você iria embora sem falar comigo?” Perguntou ela enfim, olhando-o diretamente nos olhos. Ele não conseguia responder… Ela levantou, calmamente deu a volta na mesa, e parou diante dele. Encostou-se, e colocou a ponta do seu pé entre as pernas dele, tão excitado que mostrava uma visível ereção, ela então empurrou a cadeira mais para o centro da sala e passou a andar em volta dele… Lentamente.

Aproximou-se do rosto dele e disse em seu ouvido: ”O gato comeu sua língua?” E continuou andando em volta dele… Ele então levantou e antes que ele dissesse alguma coisa ela disse com firmeza: “Quem mandou você levantar? Sente-se!” E ele automaticamente obedeceu! Que loucura… de repente ele se sentiu uma criança, com medo, ao mesmo tempo em que ficou excitado como jamais ficou antes… Aquela mulher à sua volta o dominava com um olhar…

Ela parou por trás dele. Sua respiração estava cada vez mais ofegante. Como estava excitado com aquele jogo. Não ousava sequer fazer um movimento. Imaginava o que ela faria agora… O silêncio dela o excitava, ela o tinha nas mãos, de uma forma que nunca estivera, entregue…

“Fique de pé!”, disse ela acordando-o do seu transe… E assim ele fez. “Vire-se pra mim!”, e enquanto ele virava-se lentamente ela disse: “mas não me olhe diretamente!”. Aquelas ordens o excitavam, a maneira firme como ela falava, sem levantar a voz…

Ela mais uma vez caminhou a sua volta, e dessa vez, como não podia olhar diretamente, via apenas os seus pés, naquele scarpin altíssimo vermelho… Era uma mulher de personalidade, toda de negro com scarpins vermelhos…, a curvatura do seu calcanhar, seus tornozelos… Como aquilo mexia com ele.

Ela então se encaminhou para a mesa, e ele continuou como estava, de pé, olhando para baixo. Mais uma vez ela lhe dirigiu a palavra, e dessa vez mais uma vez com doçura. “Sente-se, por favor…” E assim ele fez, com o coração aos pulos, sem entender o domínio daquela mulher sobre ele. Ela estava mais uma vez sentada em sua cadeira, por trás da mesa de vidro…

Ele suava… Ela deu um sorriso amistoso para ele, e disse que não havia por que ele ter medo. Anotou uma coisa em um bloco, arrancou a página e disse: “Gostei de você… É um homem interessante. Espero-te hoje à noite neste endereço. Não se preocupe, sei que vai gostar…”

Dizendo isso, levantou-se, e abriu a porta… Como um autômato ele levantou-se e antes de sair, tomou-se de uma coragem que surpreendeu a si próprio e perguntou olhando-a nos olhos: “Qual o seu nome?” … “Ana” ela respondeu. E antes que ele dissesse mais alguma coisa ela finalizou: “Te espero na hora e no lugar marcado… Carlos.” Ela sabia o seu nome, talvez a secretária tivesse dito, ele havia anotado junto com o número da sua conta, mas… o que importava?! Era tudo uma grande loucura até agora…

Mais uma vez olhou o relógio, 23:40h. Faltava pouco para saber “o que” ele iria gostar. Sua vida havia sido um inferno até aquele momento, tamanha era a ansiedade. Aquele vento frio, o barulho das ondas ao longe… Felizmente era uma noite clara, e até agora, ele não sabia “como” ou “porque” estava ali. Mentindo para sua esposa e esperando por uma mulher que só sabia o primeiro nome, Ana…

Rua Paraíso 421 23:45h

Ouviu então que um carro se aproximava… Olhou o relógio 23:45h. Nossa!!! Ela era pontual, mulheres não costumam ser assim, pensou. O carro parou diante dele, apagou os faróis e a porta abriu… Sentiu um aperto na boca do estômago. Como ele esperou por aquele momento, talvez toda a sua vida e sequer tivesse consciência disso.

Ela estava maravilhosa… Os cabelos presos no alto da cabeça, com um suave sorriso nos lábios, quase que o tranqüilizando. Veio em sua direção, carregava uma maleta preta. Usava um vestido preto, bem justo. No decote havia um zíper prateado, estrategicamente aberto, mostrando um pouco dos seus seios. Não usava meias, e dessa vez, ao invés do scarpin vermelho, calçava uma sandália de saltos altos e finos, preta, cravejada com três delicadas pedras que chamavam a sua atenção, como diamantes. Tiras de couro finíssimas atavam calcanhar e tornozelos, subindo trançadas por sua perna até quase a altura dos joelhos. Enquanto andava em sua direção, pôde perceber que suas unhas dos pés, eram tão perfeitas como as das mãos, vermelhas e bem feitas.

Aquela imagem o fez lembrar de uma cena da sua adolescência, quando viu sua prima, que sempre passava férias em sua casa, pintando as unhas. Lembrou que ficava de longe observando, fascinado… Enquanto ela lixava, pintava e cuidava dos seus pés, ele observava a curvatura dos pés dela, o calcanhar, os dedos, às unhas… Certa vez, sem perceber ficou com o pênis ereto, estava realmente excitado. Sua prima então o percebeu, e fez um comentário maldoso em voz alta: “Ô tia, olha o Carlos aqui, me olhando com cara de tarado…” No auge da sua timidez ele correu para o seu quarto e dali só saiu quando todos já haviam esquecido o episódio daquela tarde.

Ela tocou em seus ombros e acordou-o do flash-back “Chegou à muito tempo?”, perguntou. Ele então disse que sim, mas que não tinha o menor problema… “Vamos entrando então…” ela disse abrindo a porta.

A sala era ampla pintada em um tom laranja escuro que dava ao ambiente um ar aconchegante, os móveis escuros com assentos de veludo vermelho, o chão era de madeira corrida, e na parede do fundo, um quadro com a mesma figura do cartão que ela entregara a ele pela manhã. Manhã que já parecia tão distante… Antes que perguntasse ela disse: “É o brasão da minha família, somos descendentes de nobres italianos… sente-se por favor ?!”

Ele sentou, ela dirigiu-se ao bar no canto da sala, preparou dois copos de whisky e entregou um dos copos a ele, sentando-se na cadeira à sua frente com as pernas cruzadas… Balançando o pé diante dele, aqueles lindos pés, sem dizer nada, apenas observando-o, com aquele mesmo sorriso cordial. Ele bebeu seu whisky quase que de um gole só e ela perguntou se ele queria mais, respondeu que sim, e ela deixou então a garrafa diante deles, dizendo que estivesse à vontade para beber o quanto desejasse. E assim ele fez. A bebida o relaxava.

Ela falou um pouco da casa, que herdou quando seus pais faleceram, mas que estava reestruturando tudo, era arquiteta e tinha muitos projetos, mas que queria manter a essência do lugar. Perguntou um pouco sobre a vida dele, ele disse que era casado, funcionário público federal, tinha dois filhos, e uma vida bem comum. Uma vida que ele tinha que aceitar afinal essa era a sua opção de vida, tinha certeza do amor da esposa e também do amor que sentia por ela. Podia dizer que era um cara feliz.

“E o que faz aqui então?”, ela perguntou calmamente. “Eu não sei…”, respondeu ele baixando a cabeça.

O quarto dos fundos

Ela levantou então e disse: “Vem comigo… e traz aquela maleta.” Passou por um corredor, onde havia uma série de portas, seus passos ecoavam naquele assoalho de madeira. Ela parou diante da última porta, abriu dizendo que colocasse a maleta em cima de uma mesinha no canto. Era um quarto não muito grande, havia um pequeno divã de madeira escura também, com estofado vermelho, uma poltrona de encosto alto que parecia fazer par com o divã, um pequeno tapete no chão, aos pés da poltrona e a mesinha onde havia colocado a maleta. Uma das paredes era repleta de livros de cima abaixo. E a outra era coberta por uma grande cortina vermelha.

“Tire a roupa!” ela disse, com a mesma voz firme que ele já havia ouvido aquela tarde. Ele quis esboçar um comentário, mas ela repetiu com mais firmeza. “Tire a roupa!” e dessa vez ele obedeceu… Ela sentou calmamente na poltrona, ficou observando-o tirar toda a roupa ali à sua frente, tinha as pernas cruzadas, e seus olhos tinham uma expressão que ele não sabia decifrar.

Tirar a roupa diante daquela mulher era como despir-se de todos os seus problemas, do seu trabalho sacal, da sua “subvida” como tantas vezes a chamara obedecer àquela ordem, era confortável e prazeroso. O que viria depois??? Sem perceber ele sorriu…

“Quem mandou você sorrir?” Ela disse levantando-se bruscamente e ficando à sua frente, tão próxima que ele podia sentir seu perfume, aquela proximidade o incomodava deliciosamente “O que você acha engraçado?” ela continuava. Ele olhou pra ela e abriu a boca para responder, ia falar do prazer que sentia, mas ela o interrompeu mais uma vez, “Não olhe pra mim, você não é digno de olhar em meus olhos, você é nada!” E ele obedeceu baixando os olhos…

“Fique de joelhos! Aqui, diante de mim, não diga nada! A menos que eu ordene!” Era como se ela fosse outra mulher, completamente diferente da que pouco antes conversava com ele cordialmente na sala, e ele também, era outro homem, naquele momento, a única coisa que valia a pena ser, era o que ela quisesse que ele fosse. E nesse momento o que ela queria, era ele de joelhos diante dela. “Não levante os olhos, não olhe pra mim.” Ele sentiu a mesma sensação daquela tarde, mais uma vez não conseguia explicar sua ereção, aquela situação humilhante o excitava… Muito.

Ela andava pelo quarto, devagar… Quando andava a sua frente, ele podia ver seus pés, e quando estava atrás, ouvia os seus passos… Ele ali, de joelhos, com a cabeça baixa, seu pênis inexplicavelmente ereto e latejante, a respiração ofegante de tanto desejo… Ouvindo os passos dela pelo assoalho de madeira, imaginando qual a próxima ordem…

“Abaixe-se e deite no chão, assim como está… de bruços, sem levantar os olhos”, e mais uma vez ele fez. Ela levantou um pouco o vestido, colocou um pé de cada lado do corpo dele, e se agachou sobre ele , ajoelhando-se. Ele pôde sentir o salto da sandália roçando as suas coxas e também o sexo dela quente tocando as suas costas, ela não usava calcinha, também estava excitada, como ele… O que ela faria agora? De repente, ela passou uma venda preta em seus olhos, e amarrou com firmeza, levantando logo em seguida. “Pronto! Agora se deite de costas, com a barriga para cima.”

Ele não podia ver nada, a venda estava apertada, dava um desconforto ainda maior não saber o que acontecia a sua volta. Ao mesmo tempo, aquilo o excitava. Continuava a ouvir os passos dela, mas não podia mais ver seus pés… Apenas imaginá-los, suas pernas, seus seios, a lembrança do sexo dela quente a pouco em suas costas… Ele então ouviu ela mais uma vez aproximar-se dele e parar a seu lado. Sentiu então um dos pés dela sobre ele, sobre o peito dele, não sentia o salto, ela apenas o acariciava com a sola da sandália. Passou a sola pelo seu peito, pescoço, roçou em sua barba e parou em sua boca. Fez uma suave pressão esfregando suavemente, mas com força, e continuou a carícia. Agora, pressionando também levemente o salto nele… Era uma dor aguda, mas deliciosamente erótica… Sentia o seu corpo estremecer de dor e desejo… Que louca sensação. Ela então se afastou e ele mais uma vez ficou ansioso e apreensivo com o que aconteceria depois.

Ele ansiava por cada atitude dela, com certa angústia e prazer, já havia até aquele momento experimentado humilhação, dor… E ainda estava excitado, na verdade, cada vez mais… Sentiu então o pé dela em sua testa, descalço seus dedos traçando um desenho imaginário em seu rosto. Sentia seu pé ainda quente e suado, pois ela acabara de tirar as sandálias… Instintivamente ele levantou as mãos para acariciar sua perna, mas ouviu: “Não ouse!” e ele obedeceu, como um menino obedece a sua mãe, obedece a sua professora.

E ela então, com os pés descalços subiu em seu peito… Aquela pressão era quase uma carícia… Sentiu-a roçar sua sola em seu rosto, e quando ela falou: “Passe a língua!” assim ele fez, lembrando que muitas vezes desejou fazer isso em sua esposa, mas a timidez o impedia, o medo de ser considerado anormal… Lambeu aquela sola, com tanto desejo, tanta vontade… Sentiu o cheiro de suor entre os dedos dela, beijou-os um a um, quando ela disse enfim: “Agora segure e acaricie…” assim ele fez, com tanto desejo… Que colocou todos os dedos daquele delicioso pezinho de uma só vez em sua boca, com necessidade e urgência, completamente excitado quase em êxtase. Quando ela então tirou o pé da sua boca… De uma só vez: “Não! Ainda não!” disse ela saindo de perto dele.

A maleta preta

Sem entender, com a respiração ofegante… Completamente desnorteado, com o sexo latejando de tanto desejo ele estava ali, esperando, ansiosamente pela próxima atitude dela… Dava uma sensação de medo, excitação, liberdade… Uma mistura de tudo que já sentira até aquele momento.

“Levante agora, e me dê sua mão.” Guiou-o até o divã vermelho. “Sente-se!” e mais uma vez, afastou-se dele, que ainda com os olhos vendados, ouviu um som, como se ela estivesse abrindo a maleta preta. Ele podia ouvir que ela pegava alguma coisa, mas não sabia exatamente o que… Pensou ter ouvido barulho de chaves, mas tudo ficava por conta da sua imaginação. Parecia demorar uma eternidade.

Ela enfim aproximou-se e dessa vez, não disse nada, apenas o empurrou no divã, com força… Ele não entendia muito bem o que estava acontecendo, teve medo, ela ficou por cima dele e então… Prendeu primeiro o seu pulso direito a uma algema, e atou-a no pé do divã, logo depois fez a mesma coisa com o esquerdo. Pela primeira vez naquela noite, ele temeu pela sua vida… Pensou em seus filhos, na esposa… Teve um medo real. O que aquela louca faria com ele, ao mesmo tempo em que passava uma imensidão de coisas em sua mente… Ele sentiu que estava prestes a ter um orgasmo… Estava completamente excitado com tudo aquilo, se debateu tentando se soltar, mas as algemas apenas apertavam mais o seu pulso. Quanto mais ele se debatia mais apertava.

Ela saiu de cima dele, e aquilo causou ainda mais desespero, pois ele não tinha como imaginar o que viria depois. Tinha os olhos vendados e as mãos atadas. Estava completamente entregue àquela mulher…

Sentiu então os pés dela entre as suas coxas, com suavidade, com as pontas dos dedos de um dos pés, ela acariciava os seus testículos. Enquanto com o outro pé, passava pela parte interna da sua coxa… Ele estava completamente louco de tanto prazer… Sentiu que não conseguiria segurar o orgasmo por muito mais tempo, foi quando sentiu os pés dela unidos em volta do seu pênis, acariciando-o, masturbando-o, aqueles pés quentes e macios deslizavam pelo seu pênis, subindo e descendo, para cima e para baixo, provocando uma sensação que ele nunca imaginara existir…

E então, sentiu um calor tomar conta do seu corpo, como se uma explosão estivesse prestes a acontecer. Sentiu o corpo retesar, para depois estremecer em um orgasmo louco, que veio em ondas… e parecia não ter fim… Apesar da venda nos olhos, foi como se visse um clarão a sua frente, uma luz, a luz que ele necessitava para saber que estava vivo. Que sua vida era mais que a mesmice do dia a dia, e então gritou… Um grito de libertação, de prazer… Um grito que exprimia toda a força daquele orgasmo, daquela sensação maravilhosa.

Um segredo

Ele não sabe quanto tempo durou a explosão do seu orgasmo, nem tampouco quanto tempo ficou ali, inerte naquele divã, sentia a sua alma leve e em paz, como há muito tempo não sentia. Ainda com o olho vendado e algemado, sentiu o corpo lavado por um suor libertador, não ouvia nenhum som além da própria respiração que aos poucos se acalmava.

Sentiu então as mãos dela em seu pulso, abrindo a primeira algema, depois no outro pulso, abrindo a segunda algema. Carinhosamente ela desatou sua venda e ficou sentada a seu lado massageando o seu pulso… Ele demorou a abrir os olhos, a luz… o incomodava. Quando finalmente abriu, viu o rosto dela… Também suado, exausto, com os cabelos soltos e emaranhados, sorrindo carinhosamente para ele.

Era uma outra mulher, e ele um outro homem, ele não sabia explicar o que havia acontecido naquele quarto dos fundos, mas talvez ela sim. Ela o levara até aquela casa, ela devia saber mais sobre tudo o que acontecera.

“Ana, como você sabia que eu iria gostar?” perguntou ele, pela primeira vez sem medo. Sua pergunta era quase um agradecimento. “Quando o vi esta manhã, enquanto caminhava em minha direção depois da batida, vi a resignação estampada em seu rosto. Resignação de quem acredita que já sabe tudo o que pode esperar da vida, que já foi submetido a tudo e a todos. Que nada mais pode ser novidade… Pensei então, que “eu” podia te mostrar o contrário, que nós nunca sabemos realmente quem somos, o que esperamos, ou do que somos capazes.” ela disse, e continuou: “ Carlos, amor é essencial, mas… o prazer também é essencial. Nada do que aconteça entre quatro paredes é errado ou pecado, desde que se tenha mútua permissão pra isso.”

“Mas… e amanhã? Como vou olhar pra minha esposa, meus filhos, meus colegas de trabalho?” Perguntou ele realmente preocupado. Ela então fixou aqueles grandes olhos negros nos olhos dele e disse: “Da mesma forma com que sempre olhou, aliás, melhor, pois agora você sabe que a sua submissão não é uma fraqueza, desde que você a exercite no lugar e na hora exata e use-a para o seu prazer. Ninguém precisa saber o que aconteceu esta noite. Este será o nosso segredo!”.

Ele então fechou os olhos e deu um suspiro… “Sim, este será o nosso segredo…” pensou.

Posted in: FemDom, Podolatria